
Este post, é a justa homenagem ao ilustre AJ-28-26, que irá dentro em breve ser destruído para reciclagem, e vilmente substituído por outro, sem qualquer remoço, e sem o cumprimento da vã promessa de o fazer durar mais vinte anos, e a fatídica historia de amor entre ele, e o companheiro deste blog.
Corria o ano de 2003, eu, o colaborador deste blog, e um amigo comum, tínhamos ido passar umas mini ferias a Segadães (não vale a pena ver no mapa, não esta lá, mas fica no norte do pais, perto de Águeda), a convite do nosso amigo Tripeiro (nome semi-fictício).
Eram 16 horas, tínhamos chegado à estação de comboios de Aveiro, e para nos receber e acolher ao famoso destino, estava o Tripeiro e o AJ-28-26, foi nesse momento que o colaborador do blog se apaixonou pelo bólide, uns dizem que foi amor a primeira vista, para mim foi tentativa de violação ao primeiro toque.
Chegamos a casa, numa viagem feita com os devidos elogios à idade do ilustre e varias demonstração do seu potencial (não confundir com potência), e noto já ai algumas festas e esfreganços rectais do colaborador ao respectivo veiculo.
Já em casa, quando ninguém deu por nada, tomou de assalto o volante do carro, num gesto brusco e irreflectido dum recém encartado, apaixonado com o seu brinquedo novo, e numa confusão de números, já tinha ido três vezes contra a vedação quando descobriu o R da marcha atrás, deu três voltas ao condomínio, e quando o Tripeiro se queixou da conta do Gás (o AJ-28-26 é híbrido), lá encostou o bólide à cerca, claro, que aqui, o encostou, não é só no sentido literal, é também no sentido físico e químico.
No dia seguinte fomos os quatro almoçar a um restaurante com vista para um rio, que não me lembro o nome, um sítio calmo, bem frequentado, com uma ementa maravilhosa e um serviço recomendável, comemos e bebemos que nos fartámos, pagámos a conta e saímos, o Tripeiro e o outro amigo tinham-se atrasado, e quando eu e o famoso colaborador chegámos ao pé do carro, este abre-me a porta pois tinha roubado a chave, e somos os dois dar uma volta pela estrada de terra batida, ao lado do rio.
Começamos por fazer aquilo que ele chamou de “start burning”, que é qualquer coisa parecida com um arranque a esgravatar e a engrenação repentina da segunda velocidade, chegamos ao fim da estrada e demos uma volta de 180º, que é comummente chamada de “pião”, e só não ficamos voltados ao contrario porque foi mal feito, foram só 90º, depois viemos direito ao restaurante com a força toda, e é ai que se dá o fatídico acontecimento, numa tentativa de fazer ainda não sei bem o quê, que uma arvore se atravessou no nosso caminho, destruindo a parte da frente do célebre bólide, ponto termo ao amor de pouca duração, com um divorcio com excomunhão de bens ilicitamente adquiridos.
Foi deveras muito penoso para mim, um sofrimento incalculável, só me lembro das árduas dores abdominais, que iam desde o externo á bexiga já apertada e comprimida com a força das contracções de tanto rir, e num momento de lucidez, tirei a maquina fotográfica e guardei esta imagem para a prosperidade futura, desse momento lembro-me perfeitamente de algumas coisas que não estão na fotografia; a completa indiferença de dois pescadores ao sucedido, não sei se aquilo era frequente por aquelas zonas, pois olharam um para o outro com um olhar do tipo, “-olha, mais um!”, lembro-me da cara de estupefacção do inconsolável colaborador, contrastando com a aceitação do Tripeiro, de certeza que quando deu pela falta das chaves, ligou logo para o 112 por precaução, lembro-me da cara do Pai do Tripeiro quando chamado ao local para nos rebocar a dizer, “-porra, tinha que durar mais vinte anos!”.
Posto isto, hoje vejo a sorte que tivemos da arvore nos ter aparecido à frente, caso contrário nesta altura estávamos boiando no meio do rio a servir de buffet aos peixinhos, mas pelo menos teríamos causado uma reacção qualquer aos pescadores, do tipo “-fooooda-se, filhos da puta, espantaram os peixes!”