segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O Folheto



A cruzada actual da Igreja católica, é interferir num referendo legítimo, e legal de sufrágio livre e universal, num estado de direito e laico, mostrando a sua imputabilidade fase ao artigo 206º da lei do referendo, «o cidadão investido de poder público, o funcionário ou agente do Estado ou de outra pessoa colectiva pública e o ministro de qualquer culto que se sirvam abusivamente das funções ou do cargo para constranger ou induzir eleitores a votar ou a deixar de votar em determinado sentido são punidos com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias.

Fica mal, a quem hipocritamente anunciou há três meses, que não ia interferir na realização do mesmo, mas para quem a mentira é o segredo do negócio, não me espanta o seu uso recorrente.

E como a hipocrisia é apanágio da mesma seita, já começaram a fazer das suas, e com o financiamento da OPUS DEI e do BCP, passo a redundância, aproveitaram, com o protesto de vender um simples terço alusivo a comemoração do 90 aniversário da sucursal do Vaticano, Fátima, para distribuir pelas caixas de correio um folheto a apelar o voto no Não!

O folheto a mim, e imagino a outros ateus, sinceramente deu-me vontade de rir, fiquei tentado a comprar o terço para pagar os momentos de diversão que o folheto me proporcionou, pelo alto nível de terrorismo intelectual que atenta contra a consciência de um crente, nas ameaças que contem, caso a intenção de voto não for concordante à deles, é deveras hilariante.

Esses representantes de um grupo de pessoas que acredita na ressurreição de um cadáver há dois mil anos, paladinos da verdade universal, objectores de uma livre consciência, que andam acima da lei, que ignoram o laicismo do estado português, que ameaçam com o inferno e vendem lotes do paraíso em troca de indulgencias e neste caso em troca de manipulação de consciências, não entendem, ou não querem entender, que o que vai a sufrágio no próximo dia 11, não é a moralidade nem a ética da interrupção voluntária da gravidez.
Ninguém quer fazer do aborto a pílula do mês seguinte, é simplesmente a despenalização do aborto, para acabar de vez com a hipocrisia. Quem for contra, não terá que o fazer, nem aqui, nem em lado nenhum, a despenalização não obriga a um consumo mínimo de três abortos/ano!
Agora, quem tem dinheiro sempre o fez e fará, em condições de dignidade e sem riscos para a sua integridade física, mas quem é pobre e não tem orçamento para ir a Badajoz ou a Londres, não terá o direito ao mesmo tratamento, ao invés de ser condenado e julgado?
 

Para essas mulheres que arriscam a sua vida num momento de fragilidade, não bastará já a sua pobreza, e a consequente falta de meios para interromper em segurança a indesejada gravidez, senão ainda por cima terem que levar com os folhetos, os padres, os juízes e o enxovalho público?

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