domingo, 4 de fevereiro de 2007

O Grande Português


A RTP anda a transmitir um programa, cujo nome é “Os Grandes Portugueses”, pessoalmente ainda não entendi o propósito que serve tal programa, para alem de substituir a electricidade estática do monitor; e até tenho sérias dificuldades em descortinar o que estava na mente do criador do formato, para além dos ácidos, do álcool e da merda, claro.

O programa é uma espécie de tudo, que acaba por não ser rigorosamente nada;

-é um jogo interactivo constituído por 100 candidatos propostos, 100 defensores dos mesmos, um moderador, e vários votantes com vista a eleger o grande português de todos os tempos,

-é um talk show, com alguns entrevistados de diversas áreas que a única coisa que têm em comum, é um convite da rádio televisão portuguesa para irem ao programa defender o seu voto, ou debater as escolhas do publico,

-é um programa didáctico, porque narra a biografia dos candidatos, contextualizada na historia da sociedade portuguesa, e sua respectiva importância na mesma,

-é uma espécie de frente a frente, quando dois defensores partidarizam a sua escolha,

-e é igualmente uma comédia, porque alguém se empenha em fazer daquilo um programa sério.

O concurso está dividido em três fases, na que se transmite agora, só já temos os 10 mais votados pelo público, e para grande espanto de alguns o Senhor Ditador Oliveira Salazar estar lá no top ten, claro que tal facto se deve exclusivamente à RTP, que aquando ninguém se lembrou do canalha, achou por bem, propô-lo para os 100 primeiros, anunciando prontamente a proeza, a RTP ganhou uns trocos em receitas de publicidade, com os inúteis debates em torno do assunto por eles criado, e os portugueses ganharam o enxovalho de ter o ditador no top ten.

Mas o pior daquilo é o critério, ou melhor, a falta dele, são elegíveis portugueses das áreas que vão da a arte, à politica, à musica, ao desporto, à historia, à poesia, à ciência, à ditadura, etc., tudo cabe no mesmo saco, os candidatos só têm que ter nacionalidade portuguesa mesmo que não sejam do tempo do BI, é obvio que alguém anda a confundir, a falta de critério, com o falso argumento do estimulo à capacidade intelectual dos votantes com tão vasta e pertinente pergunta a que os submetem.
Se o publico pedisse ao tipo que inventou o formato para escolher “As Grandes Bebidas do Mundo”, ele haveria de o acusar de misturar no mesmo role, as bebidas fermentadas com as destiladas, e a sua fidelidade a ambas impedia a livre escolha.

Uma vez o programa findado, e o grande português finalmente revelado, o que é que vai mudar na sociedade portuguesa, como é que essa revelação vai contribuir para a minha felicidade, e o mais importante, o que lhe vamos fazer? Uma estátua, um livro, cunhar-lhe o busto numa moeda de euro, baptizar uma avenida com seu nome…

Cá para mim, que ninguém nos ouve, vamos fazer-lhe um programa televisivo na RTP e tirar elações e conclusões do resultado da votação, que para mim, têm a mesma validade que concluir acerca da extracção da bola 7 no jogo do euromilhões.


PS: Falando com o outro colaborador, ele frisou um ponto que não posso deixar de apontar; com a típica mentalidade portuguesa, nunca mais vamos ter ninguém a destacar-se em nenhuma área, pois o título de Grande Português já foi atribuído e não há concurso comparável, em que valha a pena ser-se distinguido. 

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