A Festa Brava
Um gordo de 120kg, 20 dos quais papada, toca a corneta, levanta-se multidão, obviamente os que compraram bilhete sentados, os outros estão já erectos, a televisão cumpre o serviço publico de transmitir a festa brava.
Deliram os aficionados, espécie que descreverei à frente, acaba de entrar o touro, excelente exemplar da ganadaria dum Eng. qualquer, nas bancadas fazem-se palpites para o peso do animal, mas uma coisa é unânime, é um bom touro.
Começa a lide a cavalo, um cavaleiro vestido com um traje idêntico ao que o Napoleão usou na batalha de Waterloo, monta um cavalo treinado por um instrutor de danças de salão.
Vão-lhe dando uns paus compridos, decorados com umas fitinhas de papel de cores garridas e berrantes, dotados de uma ponta em ferro em forma de seta, o que impede a sua saída depois de espetado, tipo anzol.
Resguardado pela sua montada, começa então o valente cavaleiro a sua dança à volta do touro e, de cada vez que acha mais ou menos apropriado, espeta-lhe um daqueles ferros nas costas, no fim a multidão é unânime, é uma boa lide.
Quando notoriamente o touro está cansado, sucumbido na sua dor, entra uma ganadaria de meia dúzia de matarruanos, os forcados, de barrete verde, e calçanito pelo rego do cu acima, jovens com um historial medico invejável (entre eles, claro), recordistas do numero escoriações por cm2, ossos partidos, fracturas expostas, e afins, troféus não só amealhados na arena, mas também em meia dúzia de festas lá da aldeia.
O sucesso é garantido, o homem, pode tentar e falhar 50 vezes, mas se conseguir abraçar o touro e sair de lá a andar sozinho, a multidão é unânime, é uma boa pega.
Repete-se a mesma receita por mais 4 ou 5 vezes, apenas alteramos os intervenientes, e temos a festa por concluída, unanimemente foi uma bela festa.
Os aficionados, como se auto proclamam, partilham entre si uma mística que os convence que gostar de touradas os torna superiores ao mortal comum. E são frequentemente dotados de um marialvismo fadista e de uma fervorosa e fanática religiosidade, que conciliam perfeitamente com uma homofobia militante, o que até os leva a fazer de conta que os trajes dos toureiros não são empaneleirados.
Esses aficionados dizem que é função nobre do touro e até uma honra para o animal, calcule-se, ser lidado numa arena. Não sei se algum deles alguma vez pediu a opinião do touro, ou até se se prontificou para ser voluntário em tão nobre destino, mas duvido.
Dizem também que é graças às touradas que os touros ainda não estão já extintos. Igualmente não sei, se se preparam para realizar campanhas contra a extinção dos tigres promovendo espectáculos públicos em que lhes espetam farpas nas costas. Porque convencer os tais matarruanos a pegar o tigre, não me parece ser tarefa complicada.
Que é festa é brava, o Touro é selvagem, todos sabemos, porém denoto maior selvagaria da parte dos aficionados do que do Touro, chateia-me o facto de não ser unânime.
1 comentário:
Parece-me unânime....um grande post! Já fazia falta na blogosfera alguém que descreve-se o matarruano marialva, monárquico, católico como ele realmente é. Mal se distingue a infima distância entre a caricatura e a realidade...
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